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27 maio 2010

Disso e daquilo

1) Capa da revista Veja do ano de 1969, quando Glauber Rocha ganhou a Palma de Ouro de melhor direção por O dragão da maldade contra o santo guerreiro, que, na França e demais países europeus tomou o título de Antonio das Mortes. A Veja, nesta época, tinha como seu editor geral o jornalista Mino Carta e ainda não era a Sujíssima Veja, como a chama Hélio Fernandes. Ontem, em Salvador, com as presenças do governador Jaques Wagner, da mãe de Glauber, Dona Lúcia Rocha, e do Ministro da Cultura Juca Ferreira, entre outras personalidades, Glauber Rocha foi anistiado e sua progenitora vai receber, a título de indenização, uma bolada de mais de R$ 300.000,00 além de uma pensão vitalícia em torno de R$ 3.000,00 por mês. O caso de Glauber Rocha tem sua razão de ser, pois perseguido pela ditadura, censurado, mas creio estar a haver uma verdadeira indústria de indenizações. Conheço pessoas que nada sofreram e foram anistiadas com uma fortuna dos cofres públicos. Basta, para isso, uma folha suja do ponto de vista da Direita e relações com o círculo de poder atual. Quando estudante de Direito, nos anos de chumbo, era o programador de filmes do diretório da faculdade, e mandei buscar de São Paulo uma cópia na bitola em 16mm de Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941), de Orson Welles, para ser exibida no auditório da faculdade. Na noite da projeção, um camburrão apareceu, policiais desceram do carro e me prenderam. Passei uma noite sofrida numa dependência da Polícia Federal. Mereceria uma indenização pela noite mal dormida e cheia de pânico? Acho que não, mas se quiserem me dar, aceito-a.
2) Vejo com grande apreensão os filmes exibidos em versão digital. Muitos deles são projetados e não há respeito a seus formatos originais. E há o problema da lâmpada, que, segundo um técnico que conheço, precisa ser sempre trocada a fim de evitar o escurecimento. Mas acontece que os exibidores, para economizar, e no afã do lucro, deixam-na quase até o fim de sua vida lamparina, quando tudo no filme se parece em noite americana. Curioso é que os espectadores, principalmente aqueles das salas alternativas, não protestam, não dizem nada, não se revoltam. A apatia é enorme nesta contemporaneidade (não gosto de usar este termo). O circuito exibidor comercial virou um verdadeiro parque de diversões, ainda mais agora com a terceira dimensão. O cinema me basta em suas duas dimensões. É o caso do celular, mania planetária: para meu uso, quero, apenas, que funcione direito na chamada e no recebimento de ligações. Nada de câmera, luzes e outras engenhocas. Mas estou a sair do assunto principal do item que é a falta de qualidade das versões em digitais. Menos por culpa do digital em si, que bem exibido convence, do que da falta de ajustes adequados daqueles que as exibem.
3) http://novaspensatas.blogspot.com/2010/05/qualquer-semelhanca.html Vejam neste link o plágio cometido pelo autor do cartaz de Quincas Berro D'Água, que se inspirou no de Anatomia de um crime (1959), de Otto Preminger. Basta ver para a constatação imediata. Por falar em Preminger, grande diretor do cinema americano, deixei de rever Exodus no Telecine Cult porque totalmente espichado em full screen (tela cheia). Na apresentação dos letreiros, deixam no cinemascope original, mas, finda esta, a tela se espicha, se deforma, sofre terrível metamorfose para ajustar o quadro à tela cheia. Por que cometem tais intromissões indevidas na obra cinematográfica? Mas, por outro lado, deixaram em cinemascope filmes como Cupido não tem bandeira (One, two, three, 1961), magnífica comédia de Billy Wilder, Papai Pernilongo, musical com Leslie Caron e Fred Astaire, de Jean Negulesco, entre outros. Gostaria de saber dos critérios para que alguns sofram a agressão e outros possam passar impunes e integrais.
4) Ainda faltam 9 dias para a enquete acabar, mas faço aqui uma observação. Apenas um único votante assinalou A sombra de uma dúvida (Shadow of a doubt, 1943) como o seu Hitchcock favorito. Os dois filmes que disputam pau a pau o primeiro lugar são Janela indicreta (32%) e Um corpo que cai (25%). Este último estava na frente, mas, como nas pesquisas eleitorais, à medida que o número dos votantes cresce, as coisas se modificam. Mas não há dúvida que Janela indiscreta vence. Uma vez, no Rio, em 1984, perguntei a James Stewart qual o seu Hitchcock favorito, e ele me respondeu que era Rear window. Mas, voltando à Sombra de uma dúvida, creio que não tem votos porque é mais desconhecido, ainda que filme referencial na obra hitchcockiana. O próprio Hitchcock, em diversas ocasiões, inclusive na célebre entrevista a François Truffaut publicada em livro, perguntado sobre qual o filme que mais gostava, sempre dizia: Shadow of a doubt. É, realmente, um dos melhores do mestre, um retrato de uma cidadezinha interiorana americana, quando um tio vem visitar os parentes e sua sobrinha fica como que apaixonada por ele. Acontece que ele é um assassino, um assassino de viúvas que está sendo procurado. Joseph Cotten faz o papel e a sobrinha é Teresa Wright, atriz muito cotada na década de 40.

11 comentários:

A.C. disse...

Grandioso À Sombra de uma dúvida.Um subestimado é o Marnie.E também seu último,classudo.

André Setaro disse...

'Marnie' sempre me fascinou. É considerado por Truffaut como 'o filme doente de Hitchcock.

João Oitaven disse...

Sobre a questão do full screen, presenciei algo que me deixou boquiaberto:

Eu estava na casa de uns parentes (eles tinham uns 40 anos na época), e o anfitrião havia alugado um filme em DVD para vermos. Ao começar o filme, ele aperta o botão para trocar o audio para a versão dublada. Meus ouvidos começavam a sangrar. Não satisfeito, remata a faena apertando o botão de zoom deixando a tela completamente cheia. Eram meus olhos que
sangravam nesse momento. Ele não tentou trocar o formato da tela (o que já me deixaria desconfortável), simplesmente deu um zoom.

Geralmente, as pessoas não estão interessadas pela qualidade da imagem ou audio. O que parece uma contradição visto o aumento das vendas de televisoes em formato wide e dos sistemas de "home theater". É provável que, se esse meu parente tivesse uma tv wide, ele não teria cometido tal assasinato (ainda que, se bem me lembro, ele tinha uma tv de mais de 30"), pelo que torço para que a coisa vá melhorando.

Ok, esse meu parente não é um frequentador de "salas de arte", a quem geralmente se espera uma maior exigencia aos formatos originais; mas tenho pessoas muito próximas a mim que sim freqüentam essas salas e não se preocupam com esses "detalhes".

Uma coisa que acho legal na Espanha é que geralmente os filmes emitidos pela televisão são apresentados em formato wide. Ainda não tá tão evoluida como Portugal onde os filmes são emitidos em verão original com legendas, mas, com a chegada da emissão digital (já não emitem de maneira analógica), pode-se trocar o audio dublado pelo original e adicionar legendas.

Sergio Andrade disse...

E vamos meter a mão nos cofres públicos (isso é, no nosso dinheiro). Vide os casos de Ziraldo e Jaguar, que levaram mais de um milhão de reais pra casa, cada um!

Jonga Olivieri disse...

Full Screen é um crime!
A indenização de Glauber por parte da União foi injusta. Deveria, a exemplo de outros que 'nem foram tão prejudicados' ter um prêmio maior ainda!
Glauber foi perseguido, saiu do Brasil ás pressas e rodou pela Europa, finalizando a 'perambulagem' em Lisboa.
Mas até que ponto o seu "kanzer" (como ele se referia à sua doença) não foi causada pelos desgostos e augruras da perseguição?!

André Setaro disse...

O Telecine afronta o bom cinéfilo por causa da apatia dos demais assinantes, que pouco estão ligando para a manutenção de um filme em seu formato original. E a maioria não sabe nem do que se trata. O exemplo dado por Oitaven é bem significativo.

Uma pesquisa feita pelos canais de assinaturas demonstrou que mais de 80% dos assinantes preferem que os filmes venham logo dublados. E preferem a tela cheia mesmo, como o sujeito do exemplo de Oitaven.

Algumas cópias em DVD de filmes originariamente em cinemascope também estão sendo massacrados. A Europa, distribuidora, adora massacrar os filmes. Mas ninguém se importa.

Jonga Olivieri disse...

Os casos de Ziraldo e Jaguar são assintosos.
Quando me referi a ... a exemplo de outros que 'nem foram tão prejudicados...' falava justemente deles.
Mas no caso de Glauber (e de dona Lúcia) a quem conheço e respeito pelo que faz no "Espaço Glauber", um verdadeiro museu das atividades intelectauis de Glauber, que, para alem deo diretor que foi, era tambem um excelente desenhista e escritor.

Sérgio Alpendre disse...

vou pedir indenização também. Afinal, era criança, e tinha de cantar o hino nacional todos os dias antes de entrar na escola, por medo de ser torturado pela diretora, que olhava muito feio para as crianças que não cantavam a plenos pulmões. Sobre a enquete, vou lá votar, Setaro, pois meu preferido é justamente A Sombra de uma Dúvida.

abraços

André Setaro disse...

O blog apoia o seu pedido de indenização por motivo muito justo, aliás.

paulo disse...

Impressão minha ou o Senhor Jonga recebe alguma coisa, ou espera receber?
Dito isso, não entendo como uma pessoa de esquerda pode aceitar uma indenização que vem do dinheiro de quem não tem o que comer, não tem direito à educação etc pra fins finaceiros próprios.

Anônimo disse...

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