Seguidores

18 agosto 2013

Um Barlan ninguém esquece

Carlos Modesto, fotógrafo, cineasta, homem de mil instrumentos, nostálgico de boa cepa de um tempo cinematográfico que o vento já levou, enviou-me o texto abaixo. Resolvi publicá-lo aqui em meu blog.

Por Carlos Modesto
Fui convidado pelo meu amigo Roque Araújo, para ver a sua exposição de equipamento fotográfico/cinematográfico, realizada no DIMAS, no prédio da Biblioteca dos Barris. Ao passear pelos diversos aparelhos ali colocados, minha visão de repente aproximou-se de uma rudimentar peça de projeção, cujos olhos imediatamente encheram-se de lágrimas e me fez recordar imediatamente do meu tempo de criança, no início da década de 1950, do século passado, quando o cinema possuía ainda uma tamanha força de encantar, onde a civilização de então entrava num salão umbroso, sentava em frente de uma tela prateada vendo as imagens fluir, e, assim, durante o tempo de duas ou mais horas esquecia seus dramas e suas dores. O cinema era a catarse das multidões. 

A criança, que entrava pela primeira vez numa casa exibidora de filmes, ficava perdidamente apaixonada pelo ritual de uma projeção cinematográfica. A cabine do operador da projeção mexia com seus sentidos, principalmente, quando tinha a possibilidade de entrar em alguma e presenciar o manuseio de como o mesmo colocava o filme no projetor. E, o que mais intrigava o menino (por não possuir ainda certo conhecimento de física), era o de ver a imagem invertida no aparelho e a mesma ser mostrada com perfeição na tela.

O cinema produzia na criança um efeito de sedução sem precedentes, levando-a sonhar acordado com os filmes de ação e seus mocinhos de “faz de conta” dos seriados, Tarzan e faroeste.

Sendo assim, apareceu naquele pretérito um projetor simples e caseiro denominado “Barlam”. Na verdade, o protótipo era um brinquedo de plástico duro (baquelite) de uma ou duas cores, possuindo uma manivela que arrastava o filme e se a memória não me engana feito de papel encerado tipo o amanteigado onde se desenhavam as figuras.

Foi então um Barlan que meu pai deu-me de presente no dia do meu aniversário de oito anos de idade. Morava na cidade de Estância/SE.  Quando o pacote chegou as minhas mãos e foi aberto, vi aquela peça encantadora, à alegria foi tão intensa a ponto de querer abraçar o meu querido pai como agradecimento, mas como era bastante tímido, ficou apenas na intenção.

A emoção sentida ao possuir aquele simplório brinquedo só pode ser entendida por àqueles que da mesma forma tiveram um exemplar de qualquer espécie de projetor e que de fato tinham amor pelo cinema.

Os filmes acompanhantes na compra do referido aparelho eram três e se o adquirente quisesse outros, era obrigado a recorrer a capital do Estado, ou mandar buscar pelo correio em São Paulo e Rio de Janeiro. Recordo-me de Branca de Neve e os Sete Anões entre os primeiros conseguidos. Devido à dificuldade encontrada em achar outros títulos, recorri então ao estratagema de cortar as figuras das revistas em quadrinhos coloridas e assim adaptar como se fossem filmes.

Naturalmente, existiam modelos mais avançados de projetores nas bitolas “8” e “16” milímetros, movimentados a manivela e a motor, mas eram bem mais caros. E só os filhos de pais ricos podiam tê-los. O meu pai se encaixava como de situação plausível de me comprar um desses exemplares, porém fiquei de certa forma muito satisfeito com o meu Barlan, principalmente pela analogia que fiz entre este e os anteriores projetores artesanais feitos pelas minhas próprias mãos, com caixas de sapatos, lâmpadas transparentes cheias de água que servia como lente e uma lanterna que iluminava os fotogramas para a projeção.

Com a continuidade da vida fui conseguindo diversos tipos de aparelhos nas diversas bitolas, mas nenhum deles me proporcionou tantas alegrias quanto o meu querido Barlan.  

Nenhum comentário: